sexta-feira, 31 de julho de 2009

"Perguntei a um sábio,
a diferença que havia
entre amor e amizade,
ele me disse essa verdade...
O Amor é mais sensível,
a Amizade mais segura.
O Amor nos dá asas,
a Amizade o chão.
No Amor há mais carinho,
na Amizade compreensão.
O Amor é plantado
e com carinho cultivado,
a Amizade vem faceira,
e com troca de alegria e tristeza,
torna-se uma grande e querida
companheira.
Mas quando o Amor é sincero
ele vem com um grande amigo,
e quando a Amizade é concreta,
ela é cheia de amor e carinho.
Quando se tem um amigo
ou uma grande paixão,
ambos sentimentos coexistem
dentro do seu coração."
William Shakespeare
Inconstante como a água
frágil como cristal
sentimentos vem e vão
nesse teimoso coração

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Surpresa Boa

Surpresa boa na fria manhã
de quinta feira, sorriso
descrente, dúvidas
confirmação.
Desejo outrora impossível
agora realidade feliz
e marcante, novidade
radiante

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Dor

Dói que nem bicho
machucado de espinho
dói que nem passarinho
que caiu do ninho

Destrói corroendo o
pedaço que restou
do coração esfarelado
de tanto que doeu

O dia inteiro choveu
a noite inteira remexeu
a dor apareceu
no peito que morreu

terça-feira, 28 de julho de 2009

Quero mesmo é sair voando
esquecer as dores, sorrir...

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Tudo Passa

Os gemidos da mão estremecida
Os brinquedos do tempo de criança
O sorriso fulgaz de uma esperança
E a primeira paixão da nossa vida.

O adeus que se da por despedida
E o desprezo que a gente não merece
O delirio da lagrima que desce
Um momento de angústia e de desgraça

Tudo passa, na vida tudo passa
Mas nem tudo que passa a gente esquece

Chico Pedrosa


sexta-feira, 24 de julho de 2009

A Briga na Procissão

Quando Palmeira das Antas
pertencia ao Capitão
Justino Bento da Cruz
nunca faltou diversão:
vaquejada, cantoria,
procissão e romaria
sexta-feira da paixão.

Na quinta-feira maior,
Dona Maria das Dores
no salão paroquial
reunia os moradores
e depois de uma preleção
ao lado do Capitão
escalava a seleção
de atrizes e atores

O papel de cada um
o Capitão escolhia
a roupa e a maquilagem
eram com Dona Maria
e o resto era discutido,
aprovado e resolvido
na sala da sacristia.

Todo ano era um Jesus,
um Caifaz e um Pilatos
só não mudavam a cruz,
o verdugo e os maus-tratos,
o Cristo daquele ano
foi o Quincas Beija-Flor,
Caifaz foi o Cipriano,
e Pilatos foi Nicanor.

Duas cordas paralelas
separavam a multidão
pra que pudesse entre elas
caminhar a procissão.

Cristo conduzindo a cruz
foi não foi advertia
o centurião perverso
que com força lhe batia
era pra bater maneiro
mas ele não entendia
devido um grande pifão
que bebeu naquele dia
do vinho que o capelão
guardava na sacristia.

Cristo dizia: “Ôh, rapaz,
vê se bate devagar
já tô todo encalombado,
assim não vou agüentar
tá com a gota pra doer,
ou tu pára de bater
ou a gente vai brigar.
Eu jogo já esta cruz fora
tô ficando revoltado
vou morrer antes da hora
de ficar crucificado”.

O pior é que o malvado
fingia que não ouvia
além de bater com força
ainda se divertia,
espiava pra Jesus
fazia pouco e dizia:

"Que Cristo frouxo é você,
que chora na procissão
Jesus pelo que se sabe
não era mole assim não.
Eu tô batendo com pena,
tu vai ver o que é bom
é na subida da ladeira
da venda de Fenelon
que o couro vai ser dobrado
até chegar no mercado
a cuíca muda o tom".

Naquele momento ouviu-se
um grito na multidão
era Quincas que com raiva
sacudiu a cruz no chão
e partiu feito um maluco
pra cima de Bastião.

Se travaram no tabefe,
ponta-pé e cabeçada
Madalena levou queda,
Pilatos levou pancada
deram um bofete em Caifaz
que até hoje não faz
nem sente gosto de nada.

Desmancharam a procissão,
o cacete foi pesado
São Tomé levou um tranco
que ficou desacordado,
acertaram um cocorote
na careca de Timóti
que até hoje é aluado.

Até mesmo São José,
que não é de confusão
na ânsia de defender
o filho de criação
aproveitou a garapa
pra dar um monte de tapa
na cara do bom ladrão.

A briga só terminou
quando o Doutor Delegado,
interviu e separou
cada Santo pra seu lado.

Desde que o mundo se fez,
foi essa a primeira vez
que Cristo foi pro xadrez,
mas não foi crucificado.

Chico Pedrosa


quinta-feira, 23 de julho de 2009

Desilusão

Como a folha no vento pelo espaço
Eu sinto o coração aqui no peito,
De ilusão e de sonho já desfeito,
A bater e a pulsar com embaraço.

Se é de dia, vou indo passo a passo
Se é de noite, me estendo sobre o leito,
Para o mal incurável não há jeito,
É sem cura que eu vejo o meu fracasso.

Do parnaso não vejo o belo monte,
Minha estrela brilhante no horizonte
Me negou o seu raio de esperança,

Tudo triste em meu ser se manifesta,
Nesta vida cansada só me resta
As saudades do tempo de criança

Patativa do Assaré

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Minas Gerais de assombros e anedotas...
Os mineiros pintam diáriamente o céu de azul
Com os pincéis das macaúbas folhudas.
Olhe a cascata lá !
Súbita bombarda.
Talvez folha de arbusto,
ninho de teneném que cai pesado,
talvez o trem, talvez ninguém...
As águas se assustaram
e o estouro dos rios começou.

Mário de Andrade

terça-feira, 21 de julho de 2009

Os Poemas

Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechas o livro, eles alçam vôo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto
alimentam-se um instante em cada par de mãos
e partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhado espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti...

Mário Quintana

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Identidade

Tive berços de terra.
Sorvi arroios
em seios de pedrra.
Colhi no vento
lições de infância.
Deitei-me - verde - na oferta virgem
aos beijos de sol.

E na poeira
me fiz estrada.
Barros macios de longas chuvas,
eu trago as marcas dos meus próprios pés.
Tão profundas!
Quem as pisou comigo?

E grão de areia
na praia humana,
perdi arestas.
Que a onda me lave
este rosto mudado,
integrado
no areal.

Maria Helena Carneiro Catunda

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Enquanto Vocês Dormiam

Proliferei por estas paisagens proles
Não tão indesejadas
quanto você poderia ser
Deixe que vão embora
Podem multiplicar-se
Porque vão cedo
Por que vão cedo?
Enquanto vocês dormiam
eu rezava pra chuva passar

Carlos Gomes

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Até quando terás, minha alma, esta doçura,
este dom de sofrer, este poder de amar,
a força de estar sempre – insegura – segura
como a flecha que segue a trajetória obscura,
fiel ao seu movimento, exata em seu lugar...?

Cecília Meyreles

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Carrego meus primórdios num andor.
Minha voz tem um vício de fontes.
Eu queria avançar para o começo.
Chegar ao criançamento das palavras.
Lá onde elas ainda urinam na perna.
Antes mesmo que sejam modeladas pelas mãos.
Quando a criança garatuja o verbo para falar o que
não tem.
Pegar no estame do som.
Ser a voz de um lagarto escurecido.
Abrir um descortínio para o arcano.

Manoel de Barros

terça-feira, 14 de julho de 2009

O Vaqueiro

Eu venho dêrne menino,
Dêrne munto pequenino,
Cumprindo o belo destino
Que me deu Nosso Senhô.
Eu nasci pra sê vaquêro,

Sou o mais feliz brasilêro,
Eu não invejo dinhêro,
Nem diproma de dotô.

Sei que o dotô tem riquêza,
É tratado com fineza,
Faz figura de grandeza,
Tem carta e tem anelão,
Tem casa branca jeitosa
E ôtas coisa preciosa;
Mas não goza o quanto goza
Um vaquêro do sertão.

Da minha vida eu me orgúio,
Levo a Jurema no embrúio
Gosto de ver o barúio
De barbatão a corrê,
Pedra nos casco rolando,
Gaios de pau estralando,
E o vaquêro atrás gritando,
Sem o perigo temê.

Criei-me neste serviço,
Gosto deste reboliço,
Boi pra mim não tem feitiço,
Mandinga nem catimbó.
Meu cavalo Capuêro,
Corredô, forte e ligêro,
Nunca respeita barsêro
De unha de gato ou cipó.

Tenho na vida um tesôro
Que vale mais de que ôro:
O meu liforme de côro,
Pernêra, chapéu, gibão.
Sou vaquêro destemido,
Dos fazendêro querido,
O meu grito é conhecido
Nos campo do meu sertão.

O pulo do meu cavalo
Nunca me causou abalo;
Eu nunca sofri um galo,
pois eu sei me desviá.
Travesso a grossa chapada,
Desço a medonha quebrada,
Na mais doida disparada,
Na pega do marruá.

Se o bicho brabo se acoa,
Não corro nem fico à tôa:
Comigo ninguém caçoa,
Não corro sem vê de quê.
É mêrmo por desaforo
Que eu dou de chapéu de côro
Na testa de quarqué tôro
Que não qué me obedecê.

Não dou carrêra perdida,
Conheço bem esta lida,
Eu vivo gozando a vida
Cheio de satisfação.
Já tou tão acostumado
Que trabaio e não me enfado,
Faço com gosto os mandado
Das fia do meu patrão.

Vivo do currá pro mato,
Sou correto e munto izato,
Por farta de zelo e trato
Nunca um bezerro morreu.
Se arguém me vê trabaiando,
A bezerrama curando,
Dá pra ficá maginando
Que o dono do gado é eu.

Eu não invejo riqueza
Nem posição, nem grandeza,
Nem a vida de fineza
Do povo da capitá.
Pra minha vida sê bela
Só basta não fartá nela
Bom cavalo, boa sela
E gado pr’eu campeá.

Somente uma coisa iziste,
Que ainda que teja triste
Meu coração não resiste
E pula de animação.
É uma viola magoada,
Bem chorosa e apaxonada,
Acompanhando a toada
Dum cantadô do sertão.

Tenho sagrado direito
De ficá bem satisfeito
Vendo a viola no peito
De quem toca e canta bem.
Dessas coisa sou herdêro,
Que o meu pai era vaquêro,
Foi um fino violêro
E era cantadô tombém.

Eu não sei tocá viola,
Mas seu toque me consola,
Verso de minha cachola
Nem que eu peleje não sai,
Nunca cantei um repente
Mas vivo munto contente,
Pois herdei perfeitamente
Um dos dote de meu pai.

O dote de sê vaquêro,
Resorvido marruêro,
Querido dos fazendêro
Do sertão do Ceará.
Não perciso maió gozo,
Sou sertanejo ditoso,
O meu aboio sodoso
Faz quem tem amô chorá.


Antonio Gonçalves da Silva dito Patativa do Assaré

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Aquele Outro não Via...

Aquele outro não via minha muita amplidão
Nada lhe bastava. Nem ígneas cantigas.
E agora vã, te pareço soberba, magnífica
E fodes como quem morre a última conquista
E ardes como desejei arder de santidade.
(E há luz na tua carne e tu palpitas.)

Ah, por que me vejo vasta e inflexível
Desejando um desejo vizinhante
De uma fome irada e obsessiva?

Hilda Hislt

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Quatro Estações

Todas as flores da manhã
Se abriram para te ver
Volta pra mimEsquece tudo
Sente o perfume da manhã
Vê se tenta me entender
Que seja assim
Nosso prazer

Todas as quatro estações
Esperam por nós dois
O universo das paixões
Calor e frio
A confundir o antes e o depois

Eu acordei nessa manhã
Procurando por você
Volta pra mim
Esquece tudo
Flores enfeitando maçãs
Eu guardei pra oferecer
Que seja assim
Nosso prazer

Todas as quatro estações
Esperam por nós dois
O universo das paixões
Calor e frio
A confundir
O antes e o depois

Pega a minha mão
E pensa no luar
Deixa tudo acontecer
Bem devagar

Eu acordei nessa manhã
Procurando por você
Volta pra mim
Esquece tudo
Flores enfeitando maçãs
Eu guardei para oferecer
Que seja assim
Nosso prazer

Que seja assim
Nosso prazer

Maurício Gaetani, Ari Sperling e Cláudio Rabello

terça-feira, 7 de julho de 2009

Deixa o Verão

Deixa eu decidir se é cedo ou tarde
Espere eu considerar
Ver se eu vou assim chique à vontade
Igual ao tom do lugar

Enquanto eu penso você sugeriu
Um bom motivo pra tudo atrasar
E ainda é cedo pra lá
Chegando às 6 tá bom demais
Deixa o verão pra mais tarde

Deixa
Deixa o verão
Deixa o verão pra mais tarde

Não to muito afim de novidade
Fila em banco de bar
Considere toda hostilidade
Que há da porta pra lá

Enquanto eu fujo você preparou
Qualquer desculpa pra gente ficar
E assim a gente não sai
Esse sofá ta bom demais
deixa o verão pra mais tarde

Deixa
Deixa o verão
Deixa o verão pra mais tarde


Rodrigo Amarante


segunda-feira, 6 de julho de 2009

Fome de Tudo

Sem fastio
Com fome de tudo

Passando por cima de tudo e de todos
A fome universal sempre querendo tudo
E com o tempo inteiro a seu favor
Um pulo nessa imensidão de famintos
Sem leite nem pra pingar no expresso do dia
Não vejo a hora de comer já salivando
O estômago fazendo a festa em alto volume
Daqui da fome dá pra ver o que acontece

A fome tem uma saude de ferro
Forte, forte como quem come

Sem fastio
Com fome de tudo

A única verdade debaixo desse sol
Em carne viva se apresenta
Ninguém quer comer agora
Pro gosto chegar depois
Daqui dá fome dá pra ver

A fome tem uma saude de ferro
Forte, forte como quem come

Nação Zumbi

domingo, 5 de julho de 2009

Vazio pensamento
sorrisos compartilhados
carinhos trocados

Palavras doces
longas conversas
amizade calorosa

Felicidade na simples
companhia de
quem se ama





sexta-feira, 3 de julho de 2009

Todo Mundo é Lobo por Dentro (Petulante)

Você me disse que eu sou petulante, né?
acho que sou sim, viu?c
omo a água que desce a cachoeira
e não pergunta se pode passar
você me disse que meu olho é duro como faca
acho que é sim, viu?como é duro o tronco da mangueira
onde você precisa se encostar
você me disse que eu destruo sempre
a sua mais romântica ilusão
e destruo sempre com minha palavra
o que me incomodou
acho que é sim
como fere e faz barulho o bicho que se machucou,viu?
como fere e faz barulho o bicho que se machucou,viu?

Oswaldo Montenegro

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Dó de Mim



Caso você for, não me diga adeus
Deixe pra amanhã, tenha dó de mim
Não olhe pra trás, que eu não quero ver
Quando o seu olhar me fitar e estremecer

Se a solidão vier me procurar
Digo que não estou, por não resistir
Quanto tempo mais tenho que esperar
Pra que você possa vir me perdoar

Sem você eu nada sei, esqueço de lembrar
Como que se faz pra adormecer
Vou morrer só de pensar, de você pensar que é o fim
Agora diz quem vai cuidar de mim

Se você voltar ressuscitarei
Sairei do breu, pra me redimir
Que é que eu vou fazer se dependo de você
Pra viver e ser feliz

Péri

Confissão

Se não a vejo e o espírito a afigura,
Cresce este meu desejo de hora em hora...
Cuido dizer-lhe o amor que me tortura,
O amor que a exalta e a pede e a chama e a implora.

Cuido contar-lhe o mal, pedir-lhe a cura...
Abrir-lhe o incerto coração que chora,
Mostrar-lhe o fundo intacto de ternura,
Agora embravecida e mansa agora...

E é num arroubo em que a alma desfalece
De sonhá-la prendada e casta e clara,
Que eu, em minha miséria, absorto a aguardo...
Mas ela chega, e toda me parece


Tão acima de mim...tão linda e rara...
Que hesito, balbucio e me acovardo.

Manuel BandeirA

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Gripe

Dor de cabeça
Dor no corpo
Dor de ouvido
Dor
Nariz congestionado
Cabeça perturbada
Corpo fragilizado
Dor
E tudo por causa
de um minúsculo vírus,
ser repugnante
Tão pequeno
e tão forte
capaz de causar
Tamanho estrago
Num corpo
cem vezes maior
que ele
É o virus da gripe